Consegue imaginar uma cadeira de balanço, um pouco velha, com algumas madeiras quebradas e bem manchada, colocada no lado de fora da minha humilde casa, mais especificamente na varanda perto da janela manjada. Eu moro em uma fazenda há mais ou menos 30 anos, numa cidadezinha pequena no interior de Portugal. Em uma paisagem mais rural e cheia de mato possível! Pera ai. Arvores cheias de frutas suculentas, flores mais cheirosas do que o próprio perfume que minha ex mulher usava. Galinhas e galos andado com total liberdade, umas três vacas mais velhas do que a própria casa, o meu alazão que fica o dia todo comendo capim e o meu fiel escudeiro e amigo inseparável “Rufus”. Meu cachorro, um labrador muito bobo e dócil. Que fica o dia todo correndo de um lado para o outro, até hoje não entendi o porquê de tanta correria. Pois bem, essa é a visão que tenho quando estou sentado em minha cadeira. Desculpe a minha falta de educação. Muito prazer meu nome é John Taylor. Tenho 85 anos, nasci em Londres e tenho muito historia para contar, se eu lembrar. Como vivo no campo e dificilmente visito um medico, melhor dizendo nunca vou, e ultimamente tenho esquecido de tantas coisas. Não lembro mais da imagem da minha mulher (falecida), só consigo lembrar quando vejo o porta-retrato que insiste em ficar ao lado da minha cama. Tinha várias historias para contar para vocês, mas não me lembro delas direito. Lembro que quando era pequeno, eu e o meu pai brincávamos de esconde-esconde, no porão. Sempre que tocava uma sirene bem alta e um barulho terrível de avião, meu pai virava para mim e falava para se esconder muito rápido, pois ele iria contar até dez. E geralmente ficávamos lá embaixo por dias. Até o meu pai falar que podíamos sair. Lembro-me quando vim para Portugal. Estava expandindo os negócios da família. Meu pai mexia com especiarias. E uma vez fui tentar vender elas em Portugal e lá eu fiquei. Foi quando eu parei em um lugar para tomar um chá, e de longe eu percebi uma mulher linda que lia um livro. Não lembro bem das cores dos olhos e nem de muito detalhe, só lembro que ela me fez sentir algo que nunca tinha sentido antes na vida. E por ela eu fui apaixonado por 55 anos. E ainda sou, não me lembro dela direito, mas sei que fui. Tento todos os dias, lembrar como era a vida com ela. Ou de como era viver ao lado dela, dos meus pais e irmãos – a é me esqueci de mencionar, eu tinha dois irmão, Nicholas e Sam, ambos já morreram - mas tudo que consigo pensar é vazio, sem razão, coisas estranhas. O único sentimento que consigo sentir hoje é amor pela minha amada. Não sinto fome, sede ou vontade de fazer nada, só de ficar sentado aqui na minha cadeira, vendo os meus animais brincarem, e engordarem cada vez mais. Toda vez que fico sentado lendo um livro, um livro que fala de um romance sobre Romeu e Julieta. Não lembro bem da historia, mas leio todos os dias para ver se entendo. Desculpa, mas como é mesmo o seu nome e o que você esta fazendo aqui?